Números foram registrados nos EUA e revelam que meninas são as mais atingidas; entre as causas, está o isolamento social imposto pela pandemia
As regras de isolamento da pandemia são eficazes para evitar a contaminação pelo coronavírus, enquanto a maioria da população não está vacinada. No entanto, há um outro lado da moeda: elas contribuíram para o aumento nos casos de ansiedade, depressão e transtornos mentais em várias faixas etárias, desde o início de 2020. Os dados são registrados no mundo todo e, na última sexta-feira (11), os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos revelaram que as tentativas de suicídio aumentaram 50% entre jovens de 12 a 17 anos, especialmente meninas.
Os casos pioraram durante a pandemia de covid-19 e o aumento começou a ser percebido ainda em maio de 2020. Entre o fim de julho e o fim de agosto, o número de atendimentos em pronto-socorros americanos por tentativas de suicídio, entre garotas de 12 a 17 anos, aumentou 26%, com relação ao mesmo período do ano anterior.
Em 2021, este número foi ainda maior. Entre fevereiro e março deste ano, o aumento nos atendimentos a garotas que tentaram tirar a própria vida cresceu 50%, com relação aos mesmos meses de 2020.
Os números incluem atendimentos de emergência por suspeita de tentativa de suicídio, tentativas de suicídio e lesões autoprovocadas não suicidas, informou o site CNBC. Os dados foram coletados com base no Programa Nacional de Vigilância Sindrômica, que envolve 49 Estados do país.
A falta de informações em muitos Estados, porém, como dados sobre o atendimento e ausência de raça e etnia, levaram as autoridades a considerar possível subnoficação nos casos, avaliando que muitas famílias deixaram de procurar ajuda médica durante a pandemia por medo de se contaminar com a covid-19. Assim, o número real poderia ser ainda maior.
Entre as causas para as tentativas de suicídio entre as jovens está o distanciamento social imposto pela pandemia, com o consequente afastamento da escola e dos amigos. Também podem ter contribuído a falta de acesso ao tratamento de saúde mental, o aumento de ansiedade e a situação econômica das famílias, aponta o levantamento.
Sinais
Um novo estudo americano mostra ainda que sinais de automutilação – que geralmente antecedem as tentativas de suicídio – podem aparecer anos antes.
A psiquiatra Raquel Heep, mestre em Ensino nas Ciências da Saúde e professora de Saúde Mental do curso de Medicina da Universidade Positivo, lembra que o isolamento social é um fator que precisa ser considerado nos casos de tentativa de suicídio durante a pandemia e que os pais devem ficar atentos aos sinais.
“Ela começa a se isolar dos amigos ou a não querer ir pra escola. Antes ficava vendo desenho na sala, agora fica só no quarto. A queda no rendimento escolar é outro sinal precoce, que significa desatenção, falta de concentração e memória. Também é fundamental perceber mudanças na alimentação e no sono. Ela passa a ter noites agitadas, pesadelos, e não comer direito”, alerta a docente.
Os sinais podem aparecer a partir dos 5 anos, diz ela, quando a criança começa a fase de socialização e pertencimento. “Anteriormente a isso, vemos muita violência doméstica, o que repercute na fase de adolescência e até na fase adulta. Qualquer violência nesta fase de formação da personalidade, até os 8, 10 anos, poderá levar a uma pessoa mais depressiva, mais propensa a suicídio e transtornos mentais.”
A psiquiatra atenta para o fato de que, em adolescentes, a depressão tem como sintoma a irritabilidade, e não o choro e a tristeza, como acontece com os adultos. “Com a pandemia, vemos um grau de sofrimento por ansiedade muito grande nas crianças, por conta do isolamento social, com necessidade de medicação. Em adolescentes, vemos um aumento nos casos de automutilação e tentativa de suicídio”, afirma.
Ela explica que a forma de tentar o suicídio vai depender do grau de depressão do adolescente, dos meios disponíveis e do fator genético, que pode influenciar. “Também envolve o grau de sofrimento, se o adolescente apenas quer dormir ou a intenção real é morrer. Porque muitos acham que eles só querem chamar a atenção, mas se a intenção for morrer, é considerado tentativa de suicídio.”
A médica aponta que o meio mais comum dos adolescentes tentarem contra a própria vida é a intoxicação, seja por medicamentos, muitas vezes ingeridos com álcool, por produtos de limpeza ou drogas.
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